Vítor, 20 anos
Olá. Sou um rapaz de 20 anos de uma típica pequena cidade portuguesa do sul, e mais que contar uma simples história acerca do momento em que decidi assumir a minha orientação sexual, pretendo mostrar como esta fase das nossas vidas pode ser ainda mais dolorosa do que nós pensávamos. E desculpem se, de certa forma, posso persuadir alguém a não assumir (mas acredito que isso não aconteça).
Ou seja, tudo começou a acontecer mais rapidamente e quase que de forma abrupta quando, pela primeira vez, e isto reportando-me há aproximadamente um ano atrás, tive a oportunidade de aceder de forma livre e com privacidade à Internet, pois foi nessa altura que os meus pais decidiram “colocar” uma ligação à Internet em casa.
Como qualquer jovem LGBT que sou (e sempre soube que era) aproveitei a Internet para pesquisar tudo e mais alguma coisa acerca do tema… desde assuntos mais sérios como notícias acerca da homossexualidade e a forma como é encarada até a “coisas” mais banais e de “conteúdo impróprio” (que não é tão impróprio quanto isso…) enfim… até que, finalmente, encontrei um chat gay muito engraçado, foi então a partir daí que começaram os contactos e conversas mais “insinuantes” com outros homens… resumindo tive o meu primeiro namorado.
No entanto, o facto de os meus pais não saberem que era gay e além do mais, serem muito unidos a mim ao ponto de estarem sempre “colados” a mim, quanto mais não seja por telefonemas, fez com que a relação acabasse pois eu não aguentava um namora à distância, pois ele era de longe e eu andava sempre cheio de medo de me encontrar com ele e alguém próximo nos visse e percebesse. Isto, como é óbvio, causou-me uma enorme revolta mas continuei com a minha “pesquisa gay” na Internet.
Mas, de forma gradual, a minha revolta ia aumentando de dia para dia até que simultaneamente a uma tristeza profunda juntava-se a minha curiosidade sobre grupos de ajuda na net. Até que encontrei o site da rede ex aequo e aquelas histórias (muitas delas encorajadoras acerca do tema “assumir-se”), e foi aí que pensei… “porque não?!”; “…porque haveriam os meus pais de me odiar só pelo simples facto de ser homossexual?”
Então comecei a fazer “filmes” de uma vida feliz, onde nesse filme aparecia eu, os meus pais e um, eventual, namorado… todos felizes (peço desculpa pela divagação e ironia). E era precisamente nesses momentos que reparava que a minha vida era contrária aos meus sonhos, ou seja, infelicidade sobre infelicidade.
Entretanto, e contando com o facto de os meus pais se estarem a aperceber do meu (péssimo) estado de espírito, perguntavam-me continuamente o que se passava comigo… isto sem contar com as diversas estratégias que eles encontraram para tentar descobrir a causa de tanta tristeza e solidão… e diziam sempre estarem dispostos a ajudar-me fosse qual fosse o problema. Mas não imaginavam eles que o “problema” era a minha orientação sexual [reparem que problema está entre aspas – homossexualidade não é, evidentemente, um problema].
Depois de tantas insistências dos meus pais e de ter lido tantas coisas lindas na net acerca de jovens que se assumiram e de pais liberais (desculpem novamente a ironia), decidi dar também esse passo. Resultado: Se “continuasse assim”, como se a homossexualidade fosse passageira, um vício, uma doença ou algo parecido, eu ia simplesmente interromper o curso que adoro, ter que trabalhar sabe-se lá onde para me sustentar, e não sei até que ponto ser posto fora de casa, ou pior do coração dos meus pais. Obviamente menti-lhes, disse que o que sentia foi uma confusão, mas que agora era um “homem” (isto porque na perspectiva retrógrada dos homofóbicos os gays não são homem… percebem?!) e que só pensava em ter uma profissão bonita, casar e dar-lhes resmas de netinhos.
Conclusão:
Hoje além da infelicidade de ser um gay não assumido, acrescenta-se a infelicidade de não poder ser infeliz com medo que os meus pais reparem e desconfiem que “o mal voltou”. Também terminaram as saídas com amigos que eles não conheçam e que não tenham a “certeza” da sua heterossexualidade. Eu um dia vou contar-lhes claro, mas quando estiver longe e a ganhar o suficiente para o meu sustento; só me pergunto: “Serei Feliz?”